O dia 8 de março é muito mais que um dia romântico para dar presente as mulheres.
É a data escolhida pela ONU a fim de dedicar um dia para repensar e reforçar as lutas desse grupo, que ainda são tão recentes e tão válidas.
Igualdade de gênero nas empresas, equidade de salário, liberdade, segurança, respeito e oportunidade, talvez esse seria o kit perfeito para presentear as mulheres no Dia Internacional das Mulheres.
O relato de uma B.Cluber hoje será dedicado a uma das CEOs que convivem no B.Club, a fim de conscientizar que uma mulher é sim capaz, inteligente e segura, para abrir uma empresa aos 23 anos e fazer sucesso antes dos 30.
Confira o relato da Priscila Faria, CEO da Recicla.Club!
Redação: Como você chegou onde está hoje?
Priscila: Eu sou formada em administração e venho de uma carreira corporativa comum. Já passei por várias empresas, mas chegou um momento que eu não queria só ganhar dinheiro, eu queria trabalhar com alguma coisa que de fato ajudasse as pessoas e o meio-ambiente. Sempre fui envolvida com essas questões, fundei um projeto voluntário, projetos ambientais, fui voluntária em uma ONG, então aquilo que eu me dedicava só nos finais de semana, resolvi fazer da minha carreira. Durante um intercâmbio no Peru eu tive o contato com reciclagem e lá eu vi que era um mercado promissor e pouco explorado no Brasil. Voltando para cá, eu determinei que eu queria trabalhar com isso de qualquer forma, porque quanto mais eu crescesse melhor seria pra todos. Eu conheci meu sócio em um projeto de voluntários de reciclagem, ele é empresário nesse segmento há mais de 12 anos, e tinha uma ideia dentro da gaveta que precisava de alguém para executar, foi aí que me tornei sócia e CEO.
Redação: O que é a Recicla.Club?
Priscila: Nós oferecemos gestão de resíduos por assinatura. É um serviço inovador que vem para democratizar o acesso a serviços ambientais de qualidade. Aqui no Brasil essa gestão é extremamente cara. Todas as empresas são obrigadas a contratar esse serviço, mas o mercado é pouco profissional, tem poucas opções, pouca tecnologia e é muito ineficiente. Então nós viemos para simplificar. Ao invés de uma empresa ter que lidar com 7, 10 fornecedores, é só contratar a Recicla.Club, nós fazemos toda gestão e apresentamos tudo isso no nosso software online. Nós temos uma equipe grande de engenheiros ambientais alinhados ao software, então são as duas coisas, o software e o serviço.
Redação: Você imaginava que ia trabalhar com algo tão importante um dia?
Priscila: Desde criança eu sempre gostei muito do mundo dos negócios, de empresa, pegava roupa da minha mãe e ficava brincando de assinar cheque de mentirinha… Minha mãe também é formada em administração, mas eu sempre idealizei ser diretora de uma grande empresa. E assim eu fui trilhando meu caminho… Tenho vários cursos de administração, amo a área de negócios, então nunca pensei em abrir uma empresa, apesar de alguns chefes meu verem minha rebeldia como funcionária e comentarem, vez ou outra, que eu deveria abrir meu próprio negócio. Eu era meio insubordinada, mas foi uma coincidência feliz, não foi exatamente planejado, eu só fui sentindo e as coisas fluíram.
Redação: Qual foi o seu maior desafio nesse processo?
Priscila: De desafio foram os dois de sempre, eu era muito nova e sou mulher. É um mercado extremamente masculino, existe o preconceito, as pessoas não te dão muita credibilidade e é muito tradicional, você vê aí empresas na terceira geração, então eu tive que transpor essas barreiras. Eu não sou muito de ficar falando, discutindo, eu vou lá, faço o que tenho que fazer e as pessoas começam a nos respeitar pelos resultados. Muita gente que desacreditou hoje é parceiro, fornecedor da empresa, porque viram que a gente está ganhando peso no mercado. Então o desafio é que quando eu fundei eu tinha 24 anos e nunca tinha sido gerente de nada, tinha sido líder de projetos extras, mas no trabalho mesmo foi a primeira vez. Foi tudo junto, empresária, líder, gerente, faz tudo e depois começamos a aumentar a equipe. Eu era uma mulher, muito jovem, a frente de uma empresa.
Redação: Quando você viu que tinha superado essas barreiras?
Priscila: Foi quando a gente fechou o terceiro, quarto, contrato, sem ser por indicação, foi algo puramente comercial. Então ali a gente viu que o mercado de fato precisava daquilo que a gente estava criando. A cada contrato que fomos fechando, a gente teve esse sentimento de “estou resolvendo um problema real”. Porque tem muitas pessoas que querem abrir uma startup, beleza, mas pra que? Quem tem esse problema? Por que você quer isso? Então, de fato, nosso produto está sendo muito bem aceito no mercado. E agora, recentemente, a gente ganhou a maior competição do Brasil de startups, com uma premiação de 1 milhão de reais, o Planeta Startup, um reality show focado em empreendedorismo feminino. Foi uma grande conquista.
Redação: Quais os próximos desafios para você? Onde quer chegar?
Priscila: Meu sonho é levar nossa solução para o Brasil inteiro! Hoje atuamos em BH e região metropolitana. São Paulo está na régua de expansão e eu tenho muita vontade de levar adiante. Em termos de negócio, lucratividade, talvez só Minas e São Paulo sejam o suficiente. Porém, eu estive no Nordeste essa semana e o Brasil é muito caro, a gente tem muita oportunidade de gerar valor com resíduos. No Nordeste a produção de cocos é absurda e vai para o aterro sanitário, então quanta coisa a gente não pode fazer com isso?! Eu tenho esse bichinho aqui dentro de querer levar uma coisa melhor para outras regiões e sei que esse sonho de levar a Recicla.Club para o Brasil leva alguns anos, então eu tenho desafios suficientes por alguns bons anos.
Redação: Pra você, o que é ser uma mulher de negócios?
Priscila: Ser uma mulher de negócios pra mim são duas coisas, primeiro é ter calma. Você em posição de CEO, de diretoria, você precisa ser uma pessoa calma, analisar os fatos, ter consistência, clareza, respeitar as pessoas, pensar junto. A segunda é utilizar o nosso poder feminino na liderança. Em muitos casos as mulheres querem tomar uma postura muito masculinizada, mas nós temos poderes únicos que favorecem muito nas negociações. Quando você passa a ter mais de 30 funcionários e a resolver questões mais complexas, o poder feminino existe, essa habilidade de escutar, de compreender, de acolher, de pensar nos detalhes, ter um lado mais emocional… Então eu vejo isso. Eu gosto bastante de lidar com mulheres. Todas as líderes na nossa matriz são mulheres e foi um processo natural, são as pessoas com mais preparo.
Redação: O que poderia ser feito para tornar o meio corporativo um lugar melhor para as mulheres?
Priscila: Eu sou bem cética quanto a isso. O mundo é o que é, ponto. Daqui 10, 15 anos, eu imagino que essa situação vai estar bem melhor, mas beleza, nós estamos em um contexto machista e o que podemos fazer com ele? Eu tenho consciência de que as coisas acontecem, mas eu não gasto energia com isso. Então quando eu passo por uma situação machista em uma reunião, eu simplesmente ignoro e faço o que eu tenho que fazer. Com o resultado eu ganho respeito. Então o que eu acho que poderia mudar nesse cenário: precisa partir das mulheres terem condições emocionais de passar por essas situações e se abalarem menos. É extremamente difícil, mas é o que eu pratico. Eu não consigo mudar o mundo. Eu vou entrar em uma sala de reunião com 15 homens e vai acontecer alguma coisa, mas pra eu sobressair ali e fechar a negociação do jeito que eu quero, eu tenho que conduzir a situação. Então eu sempre tive uma postura mais estratégica e combativa, quando necessária, e fim. Trato essas questões com muita clareza, muita frieza e não deixo me chatear. Então, enquanto não dá pra mudar o mundo, apesar de eu concordar que sim, precisamos manifestar, nos movimentar, mas enquanto indivíduo é cada um por si. Eu, na posição de mulher, sempre assumi isso, vi as coisas acontecerem, tive essa consciência, mas sempre foquei no resultado e ganhei o respeito com o tempo.
Redação: Existe alguma mulher que você admira no mundo dos negócios?
Priscila: Geralmente me vem exemplos masculinos, porque a maioria é masculina, mas o case de sucesso mais recente que mais me chamou atenção de uma carreira feminina, foi a Anitta. Se a gente pegar, é muito parecido com o contexto de mulheres empresárias. A gente vem com uma imagem que somos burras, que não vamos aguentar a pressão, ainda mais no contexto do funk, ela sofreu uma série de preconceitos ali e nós sofremos também quando partimos para o mercado. Ela conseguiu, com resultados, apesar de ter passado por coisas horríveis, simplesmente ignorar aquilo e fazer o que tinha que fazer. É o que eu acredito.
Hoje, a Recicla.Club, empresa fundada pela Priscila e o sócio, está no B.Club na modalidade de salas privativas, com uma equipe de aproximadamente oito pessoas. É um orgulho fazer parte dessa história!
Desejamos força e persistência a todas as mulheres, que o mundo seja cada vez melhor para todas vocês! Vamos juntas.